[Resenha] A Magia da Realidade | Richard Dawkins

a magia da realidade

A Magia da Realidade’ é um livro infanto-juvenil escrito por Richard Dawkins com ilustrações de Dave McKean, o mesmo cara que trabalhou no departamento de arte dos filmes de Harry Potter.

Por @meire_md

Se a ideia é impulsionar a curiosidade científica de seus filhos e estimular seu pensamento crítico não há nada melhor do que um auxílio dos grandes divulgadores, já que há algum despreparo nesta área em boa parte das escolas brasileiras e nem sempre sabemos como abordar alguns assuntos com as crianças.

Em 2011 o biólogo Richard Dawkins, o mesmo que ao publicar a emblemática carta à sua filha Juliet já havia mostrado uma habilidade incrível para falar com crianças, publicou ‘A Magia da Realidade’, que na minha opinião é um dos melhores livros dele. Arrisco-me a dizer que Dawkins fala melhor para crianças e adolescentes do que para adultos.

O livro foi traduzido para o português alguns meses depois e conta com temas interessantíssimos para os pais dividirem com seus filhos em idade escolar.

Em minha opinião, a obra é indispensável para adolescentes e bastante útil para adultos jovens ainda alheios aos desdobramentos mentais que livres pensadores trilham para entender a realidade que nos cerca ou que foram crianças que não tiveram oportunidade de acessar livros com conteúdo do tipo.

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Se você associa Dawkins à militância ateísta e já começou a ler o post com um juízo negativo antecipado, é preciso que saiba que este livro não é um manual de ateísmo para crianças ou tampouco  um manual contra religiões específicas, já que lida com todas de uma maneira igual.

É um manual que exorta a criança e o adolescente a evitar um preenchimento de lacunas ainda não respondidas com explicações mágicas.

A Magia de Dawkins está na Realidade

Se a família tem uma crença e segue um determinado dogma isso não deve ser um motivo para impedir que a criança desenvolva um ceticismo em diversas áreas.

A curiosidade científica não é nem deve ser atrelada ao ateísmo ou tratada como sendo propriedade de não religiosos. Quem afirma que a ciência é incompatível com religião está apenas caindo num vício de seleção por pura ignorância ou querendo agredir ou rebaixar pessoas religiosas, o que é lamentável de uma forma ou de outra.

Uma criança deve crescer aprendendo a questionar inclusive quem nega a religião da sua família, isso é salutar. Precisamos estimular as crianças a questionarem o status quo. Questionar não é ser rebelde.

Se há algo a atrelar à curiosidade científica é a liberdade de pensamento, isso sim.

Um livre pensador pode ser religioso sem que isso prejudique seu juízo crítico na área que pretende estudar, desde que ele tenha se desenvolvido como indivíduo dono do seu pensamento e entenda o que é e o que não é alçada da religião.

Presto aqui todo meu apoio à família que doutrina seus filhos dentro do que crê, que não os impede de buscar explicações racionais para fenômenos naturais, ou seja, que não os escravize e que entende que a ciência não precisa ser inimiga da religião. Repito: o conhecimento científico não é propriedade dos não religiosos (nem nunca foi).

Uma família pode ser cristã e aceitar as fortes evidências em favor da Evolução da nossa espécie bem como uma família Budista, judia, espírita ou politeísta pode aceitar o mesmo.

Enquanto as religiões podem dividir as pessoas em grupos muito diferentes entre si a ciência tem a capacidade de nos unir e este livro mostra como o mundo natural é fascinante.

Como pessoa que enxerga a Magia da Realidade me sinto inserida na maior ‘religião’ do planeta, porque nela há pessoas de todas as religiões e pessoas sem credo também.

Se a família professa quaisquer credos só terá problemas com A Magia da Realidade se refutar boas evidências científicas disponíveis para explicar diversos fenômenos naturais, então se for especificamente este o caso de sua família não recomendo a leitura.

Para os demais religiosos e para os não religiosos só vejo diversão e uma porta aberta para aumentar mais ainda o vínculo afetivo e admiração que os filhos nutrem pelos seus pais.

Como pode ter dito o avô de qualquer um de nós, a Educação é a herança maior que os pais podem deixar para os seus filhos.

Um beijo,

Meire

32 comentários em “[Resenha] A Magia da Realidade | Richard Dawkins”

  1. MARAVilhoso Meire. Acredito que também faço parte da maior religião… a que agrega todos. Espero que não seja apenas no campo das minhas ideias, espero que reflita também em minhas ações.

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  2. Infelizmente, Richard Dawkins (assim como Sam Harris, cujas obras tem muito em comum com as dele) deixa muita gente receosa, inclusive outros cientistas, de confiar nos seus achados e escritos, já que é evidente o tamanho do seu preconceito. Veja as palavras de um outro ateu e professor de psicologia,Scott Atran: “Acho incrível que entre os cientistas e filósofos brilhantes presentes à conferência, não houve nenhuma evidência convincente de que eles saibam lidar com a irracionalidade fundamental da vida humana além de insistir contra todas as evidências e razões de que as coisas devem ser racionais e baseadas em evidências. Isso me deixou constrangido de ser cientista e ateu…”
    Portanto, é muito aconselhável aos pais serem cautelosos na escolha da literatura para seus filhos. É muito bom despertar a curiosidade científica nas crianças, entretanto, sejamos verdadeiros para com eles, lembrando que o “nada não pode produzir algo”. O próprio ponto de partida de um universo ateu baseia-se em algo que não consegue explicar sua própria existência.

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    1. Yasmim,
      Daí a importância de ensinar as crianças a proceder leitura crítica. Elas não precisam concordar com tudo, independente de onde venha a informação. Beijo!

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  3. Meire,

    A tua profissão contribuiu como influencia na tua forma de ver a religião?

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    1. Sílvia,
      Talvez sim. Mas tudo é uma junção de fatores. Quem é católico provavelmente nasceu num lar católico e quem é budista nasceu num lar budista, as pessoas tendem a acreditar naquilo que as pessoas com quem convive acreditam, ou no Deus ou na religião do seu país. Eu fui criada de uma maneira mais ecumênica, digamos assim. Sou nascida judia, meu pai nascido católico, minha mãe passou por várias religiões até se converter ao cristianismo e minha irmã tem crenças meio espíritas e acho que meu irmão é agnóstico. Como fomos criados com liberdade de pensamento e estudei muito religiões (inclusive cursei teologia) acabei por não acreditar em nenhuma delas e convivo muito bem como isso porque não tenho necessidade de acreditar, aceito o que me parece lógico e claro. Então a minha religião é exatamente essa: todas e nenhuma. Beijo!

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  4. Meire,

    Sinto pela orfandade em todos os sentidos, que acomete a nossa realidade.

    Sim, somos órfãos da leitura construtiva.

    Esta ausência tem que ser preenchida. ????

    É bom ler através de, sobre outros, para os outros, sobre nós…, é uma busca e um retorno preferencialmente com equilíbrio.

    Gostei da leitura do post, bem como da apresentação do autor e livro conhecidos. Sugestão aceita.

    Aproveito o assunto “leitura” e repasso dois blogs que leio e contemplam assuntos que talvez possam ser do interesse .

    http://marisaono.com/delicia/ (cozinha oriental com fotos)

    vivendoemisrael.blogspot.com/ (vida diária com fotos)

    Beijo e obrigada!

    Cláudia

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    1. Suh,
      Tenho origem judaica e fui criada dentro de ética laica em ambiente agnóstico. Foi assim que cresci agnóstica e hoje não tenho crenças. Minha mãe se converteu ao catolicismo quando eu já era grandinha (perguntou se eu queria me crismar eu declinei o convite de me converter e ela entendeu), minha irmã acredita em reencarnação e meu irmão é cristão não reencarnacionista. Veja só como dar liberdade aos filhos não os engessa, cada um seguiu suas convicções (tenho o maior orgulho disso). Não sou a favor de militância ateísta exagerada nem de fundamentalismo religioso, talvez isto seja o que melhor me define. Não acredito em nenhum tipo de vida após a morte, em nenhum tipo de resposta sobrenatural nem creio que existam um ou mais deuses, mas acredito muito na bondade das pessoas, na gentileza, na sua capacidade de estender a mão para as outras pessoas. Não procuro me rotular, possivelmente eu seja pós-ateia e por isso não me envolva tanto com estas questões hoje em dia; as ideias sobrenaturais são tão distantes que não penso nelas. Meu marido também, bem como as minhas duas melhores amigas, então religião não é algo com que eu conviva, é algo bem distante de minha realidade.

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  5. Oi Meire, este seu post é muito interessante, porque suscita muitas discussões. Olha, acho que vou discordar um pouquinho de você, porque considero importante a noção de espiritualidade (não necessariamente de religião sabe?) e de ensinar valores cristãos para uma criança. Ainda não tenho filhos, mas quando os tiver pretendo ensiná-los, desde pequenos, que são parte de algo maior. Mas entendo que, caso eles queiram seguir uma orientação diferente da minha, estão livres para escolher seus caminhos. Considero muito importante esta questão da formação do pensamento crítico nas crianças e adolescentes. Em nosso mundo, as coisas têm se tornado muito superficiais, muitas vezes crianças e adolescentes aprendem por televisão, jogos violentos, entre outros. Por isso, é importante começar desde cedo a ler livros pras crianças, para estimular o prazer da leitura e também melhorar sua capacidade de pensamento abstrato. Tenho um pouco da escola humanista, acho que os pais devem ser guias, porém devem também dar liberdade aos pequenos para fazer suas escolhas, dentro do seu interesse, e desenvolver as habilidades que lhe são peculiares. Penso que assim, podemos formar seres humanos mais realizados humana e socialmente. Beijos!

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  6. Ótimo post (compartilhei!) , entre todos os outros excelentes sobre cosméticos e maquiagens, que eu descobri através do blog do Pedro. Nunca mais usarei um creminho qualquer com a ignorância de antes! Seu blog e o do Pedro me tiraram das trevas. 🙂

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  7. Juro, que uma das coisas que sinto muito nesse mundo é a prisão intelectual que algumas famílias criam seus filhos. acredito que esse livro é uma ótima opção para “iniciar” crianças na linda realidade da ciência. Ótima aposta de Dawkins!

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    1. Aline,
      Que bom que este post recebeu comentários positivos! Fiquei até mais animada. Beijo!

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  8. A visão de Richard ainda gera muita polêmica, mesmo sendo um grande cientista isso não o isenta de pegar pesado com afirmações sem provas como na declaração de que é pior para uma criança ser educada na fé católica do que ser abusada sexualmente, pondo em risco toda sua credibilidade e ofendendo católicos e vítimas de abusos.Quanto a esse livro “A Magia da Realidade” se ele passar a mensagem de como diferenciar realidade de contos de fada, acho muito importante porque o que não faltam hoje são adultos completamente ignorantes e sem qualquer possibilidade de argumentação.Nasci e cresci dentro de uma religião castradora,não podia comemorar aniversário, não podia fazer faculdade, namorar quem não fosse membro, não podia brindar,ir em shows,cantar o hino nacional,e mais uma infinidade de regras embasadas num livro que todos chamam de sagrado, mas que existe N interpretações.Por causa de uma religião eu deixei de viver tanta coisa bonita, não vivi nada, deixei tudo pra viver no outro mundo.O tempo não volta mais e hoje eu sou descrente de tanta coisa,sou completamente realista, a única certeza que tenho é que cedo ou tarde todos vamos morrer.Em tempo posso dizer com respeito a Richard Dawkins que apesar de algumas declarações dele serem agressivas,ainda sim eu sou obrigada a reconhecer que tem muito fundamento e lógica, que é o que procuro.Acho que sou atéia com respeito ao monstro do espaguete voador hehe e tomara que esse livro dele inspire muitas crianças a serem cientistas no futuro, porque de gente abilolada o mundo tá cheio,daí o números de crentes serem maior que de pensadores.Como o primeiro parágrafo do meu comentário vai meio que na contramão da proposta do seu post, acho que não será possível você aprovar, ou editar,mas gostaria que lesse.Bjs!.

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    1. Eliane,
      Não foi bem isso que ele disse (talvez tenham traduzido errado) mas o Hitchens falou algo relacionado. Concordo que o Dawkins pega pesado, eu sou mais ‘partidária’ do Carl Sagan que era uma criatura doce e moderada. A postura de Dawkins é um pouco mais de guerrilha. O meu sentimento com relação a ele é idêntico ao seu.
      Ah, eu libero todos os posts, não há como não liberar. Vocês todos são ótimos 😉 Só não liberaria um post desnecessariamente ofensivo, o que não acontece por aqui.
      Beijo!

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  9. Aplaudimos vc, querida, eu e meu marido, diante deste texto espetacular. Pensamos igual, e, por favor, retorne ao projeto de escrever os livros infantis! Há uma jornalista, Phd em pedagogia espírita pela Usp, que embora espírita como religião tem tb e sobretudo a ciência como norte (para nós, espíritas, a ciência é nosso primeiro “deus”). Ela se chama Dora Incontri, mora em Santos, dona da editora Comenius, e têm uma série de livros escritos para crianças a partir dos 10 anos. Quem sabe vcs não fazem uma parceria e ela até patrocina seu projeto? Em dado momento da história da humanidade a ciência, a filosofia, a arte e a religião, antes complementares, irmãs, formando um “todo”, foram maliciosamente separadas, e desde então tidas como opostas, antagônicas, de mundos diferentes, excludentes e segregadoras. Mas eu tenho fé de que um dia todas estas áreas do conhecimento serão vistas e tidas como ramos da mesma árvore, irmãs, em harmonia e unidade. Bjo!
    Ps: no blog do Nando e do Pedro há a opção de nós recebermos por email os comentários posteriores feitos nos posts em que opinamos. Esta opção não existe no Salada ou eu que não estou sabendo fazer direito?! Rs!

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    1. Clara,
      A ideia dos humanistas é que não exista conflito. Vejo na ciência e no humanismo o caminho. Cada um tendo o direito de professar sua fé ou sua não fé mas todos contribuindo para um mundo melhor sem achar que tem o direito de interferir na vida do outro, como por exemplo, sem direito a achar que deve proibir o casamento entre gays.
      Ah, sabe que não sei fazer esse negócio de atualização por e0mail? Vou ver aqui, hehe

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  10. Oi Meire!
    Adorável a forma como vc se colocou para falar de um tema tão emblemático, envolvido em tanta distorção e crendices com “prazo de validade vencida”. É tarefa hercúlea nesse nosso Brasil, porém chegaremos lá. Importante saber é que estar consciente da “realidade” transforma mentes e atitudes para uma vida ainda melhor individual, conjugal ou em sociedade. Penso que seja isso que todos nós buscamos e queremos para as nossas vidas e a de outros. Beijo.

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    1. Andressa,
      É a ideia. Temo um pouco pelas crianças do futuro, mas sempre há esperança. Beijo

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  11. Em primeiro lugar acredito que a ciência é dom de Deus.
    Em segundo, não educo meus filhos com ilusões. O papai noel, por exemplo, nunca existiu aqui em casa. Muitas vezes sou criticada por isso, mas gosto da verdade e a verdade não tira a beleza do Natal (por exemplo), pelo contrário, enaltece. Também não significa que histórias infantis não são contadas por aqui. Temos vários livros e cds do gênero infantil.
    Acho interessante apresentar aos meus filhos, conforme a idade e caminhada na escola, as opções, mas sempre faço deixando claro o que nós (pai e mãe), concordamos e acreditamos.

    Gostei da dica, vou procurar por aqui.
    Beijo

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    1. Adriana,
      Você cria seus filhos como minha mãe me criou, com liberdade de pensamento e isso é louvável. Minha mãe também vê a ciência como um dom de D’us e acho isso muito bonito. O legal de um livro assim é que a criança pode inclusive aprender que não precisa concordar nem com tudo que está escrito em um livro, independente de que livro seja. Ela tem que perguntar, questionar. Você pode ler o livro antes e pular partes que achar ainda difíceis para a criança ou inadequadas. Um beijo!

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  12. Obrigada pela dica, Meire! Uma pena que conheço duas crianças extremamente espertas para as quais eu adoraria dar este livro de presente mas não posso pois a família é fundamentalista. 😦 Isso me entristece tanto!

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    1. Munique,
      Se a família for fundamentalista é melhor não interferir mesmo porque neste caso a pressão para a criança ter um pensamento engessado é muito grande e pode acabar gerando mais problema ainda para a criança. Quando eles crescerem mais um pouco quem sabe, Beijo!

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    1. Adorei a dica! Tenho um filho de 9 anos que faço de tudo para mostrar a ele todos os tipos de pontos de vista e deixá-lo livre para fazer suas escolhas quando for o momento! Acho mto triste criar crianças engessadas que, no futuro, descobrem q a vida tem mto mais a oferecer do q eles sabiam! Obrigada! Bjs

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      1. Paula,
        Vai ser divertido, a criança pode ter acesso a coisas que pode concordar ou discordar, fazer perguntas. Abraço!

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